Jamais o Brasil teve um presidente tão incapaz e disfuncional quanto o que está aí.
Mas ele era “funcional” para uma elite econômica de centro-direita, ainda neoliberal, porque colocou no ministério da Economia um economista disposto a tudo liberalizar e privatizar.
Era igualmente funcional para uma classe média conservadora que se deixou convencer pela dupla Moro-Dallagnol que o PT era mais corrupto que os outros partidos e fora Lula o líder dessa corrupção.
Mas, dada a incapacidade da área econômica enfrentar os problemas da economia brasileira e levá-la a novamente crescer, esse senhor perdeu o apoio dos empresários de centro-direita.
A jornalista Maria Cristina Fernandes mostrou isso no Valor desta segunda-feira (15).
Dada sua incompetência e loucura no enfrentamento da pandemia e na compra de vacinas, ele perdeu o apoio da classe média conservadora também de centro-direita.
Perda que se aprofundou com a desmoralização da Lava Jato.
Agora, com a devolução de seus direitos e o notável discurso que pronunciou, Lula se tornou candidato natural da centro-esquerda à presidência da República no próximo ano e o provável vencedor.
Ainda que a centro-direita continue opositora a Lula, ela percebeu que precisa dramaticamente de um candidato para enfrentá-lo nas urnas que não seja Bolsonaro.
Não está claro quem será esse candidato, mas Bolsonaro, que já devia ter sido impichado pelos crimes que cometeu e cuja popularidade cai dia a dia, é ainda quem mais probabilidade de chegar ao segundo turno e enfrentar Lula.
Isto é inaceitável para a centro-direita.
Bolsonaro se tornou disfuncional também para ela, ou seja, para os empresários e a classe média conservadora.
Ele não tem, portanto, apoio em qualquer setor importante da sociedade civil. E está começando a ser disfuncional também para o Centrão. A probabilidade que ele, ainda neste ano, seja afastado por um impeachment aumentou muito.
Luiz Carlos Bresser-Pereira é economista, cientista político, cientista social, administrador de empresas e advogado brasileiro. É professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e editor da Revista de Economia Política desde 1981. Foi ministro da Fazenda do Brasil em 1987.
Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress