Artigo de Antônio Augusto de Queiroz
Episódios recentes, como a eleição presidencial Americana e a eleição municipal no Brasil, podem ser bons exemplos para análise de conjuntura, por isso me ocorreu de falar deste tema, recuperando trechos de uma cartilha que fiz sob o título “Análise de Conjuntura: como e por que fazê-la”. Eis aí, resumidamente, o conceito de conjuntura e como analisá-la.
Conjuntura traduz a ideia de fatos e acontecimento demarcados no tempo e no espeço que explicam uma realidade política, econômica ou social. Ou seja, são encontros, combinações ou concorrência de acontecimentos ou eventos numa dada situação ou circunstâncias e em determinado período que pode ser favorável ou desfavorável para a realização de algo.
Análise de conjuntura, por sua vez, pressupõe, como dizia Betinho, uma leitura especial da realidade, que combina conhecimento e descoberta, e que se faz sempre em função de alguma necessidade ou interesse.
Ou, como conceitua Daniel da Silva Martins, é um retrato dinâmica da realidade, que considera acontecimento (fatos), palco ou cenário do acontecimento (local), atores (quem), relações das forças (política) e articulação ou relações entre estrutura e conjuntura.”
A análise de conjuntura, portanto, é produzida com base num conjunto de informações contextualizadas historicamente, que consideram aspectos econômicos, sociais, culturais, políticos e tecnológicos locais, nacionais e internacionais. A virtude da análise de conjuntura está em permitir identificar tendências com capacidade de influenciar positiva (oportunidade) ou negativamente (ameaça) os interesses dos agentes políticos, econômicos e sociais.
A análise de conjuntura, para ser eficaz, precisa considerar, de forma equilibrada, os princípios do interesse e da realidade. Ela deve buscar dimensionar as forças que participam da dinâmica social, distinguindo as condições subjetivas (vontade) das objetivas (realidade). O analista não pode se guiar apenas pela vontade e ignorar aspectos que desgoste da realidade nem supervalorizar as forças aliadas e subestimar os recursos dos adversários.
Não existe análise de conjuntura neutra ou desinteressada. Ela sempre terá lado, ou seja, a leitura da realidade sempre é feita sob determinado enfoque ou ponto de vista. Segundo Luiz Eduardo Prates da Silva “ela expressa o esforço de compreensão de uma determinada realidade, mas sempre pressupõe um posicionamento assumido previamente”. A escolha das variáveis de análise já caracteriza uma opção frente à realidade.
O fato de ter lado, entretanto, não pode levar ao sectarismo inconsequente nem à visão voluntarista de que basta vontade política para dar rumo aos acontecimentos, ignorando a correlação de forças. Esse é o caminho mais curto para o fracasso.
A realidade, apesar de multifacetada, é uma só, porém leva a diferentes interpretações e formas de ação ou de intervenção, dependendo da abordagem ou do interesse do segmento, grupo ou pessoa que a análise.”
Nessa perspectiva, a análise de conjuntura é dinâmica e sua leitura varia na exata medida em que os ciclos políticos, econômicos e sociais mudam, seja em seu período de transição, seja em momentos de ruptura. Quem faz análise de conjuntura consegue ser mais eficaz no que faz, porque é capaz de avaliar os prós e contra do momento em que vai tomar uma decisão.
Antônio Augusto de Queiroz é Jornalista, consultor e analista político, mestrando em Políticas Públicas e Governo na FGV, diretor de Documentação licenciado do Diap e sócio-diretor das empresas “Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais” e “Diálogo Institucional Assessoria e Análise de Políticas Púbicas”.